Comunicação é essencial na vida humana. Sem ela, nada aconteceria e certamente não viveríamos da maneira que vivemos. E uma parte importante dessa comunicação é o diálogo. Então como escrever diálogos da melhor forma? Nós estamos sempre conversando. Falar é algo que nos diferencia de outras espécies. Mas falar e dialogar não é exatamente a mesma coisa. Principalmente quando falamos de literatura.
Assim como outros recursos, o diálogo não pode ser usado a esmo, apenas porque falar é habitual. O diálogo deve servir à história.
É comum falarmos que descrições desnecessárias podem atrapalhar o fluxo da história, certo? Diálogos banais servem o mesmo propósito. Se o diálogo não move a história adiante, trazendo novas informações ou realçando características de alguma personagem ou local, evite usá-lo.
Eu digo para meus alunos do Curso de Escrita Literárida da Tellers que na questão de descrições, se não faz diferença se uma porta é em arco, ou quadrada, não é necessário descrevê-la. Então, em um diálogo, se não há necessidade de uma conversa entre duas personagens, também não precisa criá-la.
Vários escritores escrevem pequenos diálogos de Ois e Tchaus entre personagens que se cruzam. Isso é comum na vida real, mas é dispensável na literatura.
As histórias são recortes da vida real, então apenas 1% da vida entra nela. Porque usaríamos 1% de banalidades e não investimos apenas no essencial, correto? Seu leitor agradecerá.
Inclusive, quando ele chega ao diálogo, é como se ele olhasse um filme. Ele cria as vozes das personagens em sua cabeça trazendo emoção além das informações que o diálogo traz. E essa emoção deve ser usada a favor da trama.
Para trabalhar essas emoções em um diálogo há uma importante dica. O uso de indicadores de fala.
Indicadores de Fala
Esses indicadores são os termos que usamos após a fala em si. Normalmente são palavras como disse, falou, relatou, entre outras.
Mas podemos trabalhar de uma maneira melhor com eles. Em um diálogo podemos mostrar que um personagem está mentindo, ironizando, agradecendo sem nem precisamos escrever que ele está fazendo isso. Na verdade, nem devemos escrever que ele está fazendo isso. São essas sutilezas que estão intrínsecas em um bom diálogo. E é aí que muitos escritores erram.
Você já leu ou escreveu um diálogo que encerrava com o indicador “Falou enfaticamente” ou “disse tristemente”?
Primeiro que advérbios devem ser evitados ao máximo em qualquer lugar do texto, mas isso é assunto para outro post.
A questão aqui é que falar “enfaticamente” ou “tristemente” são maneiras genéricas de se mostrar emoção. Uma pessoa que fala tristemente está apenas cabisbaixa? Está chorando? Está em prantos? E enfaticamente? A pessoa está gritando? Está braba? Ou apenas ressaltando algo com firmeza? Quantas portas abertas por se usar uma palavra genérica, certo?
E se no lugar do “disse tristemente” nós trocássemos por “disse ele quase perdendo a voz enquanto lágrimas brotavam de seus olhos”. É uma experiência bem diferente e bem visual, certo?
Então traga a emoção junto com seus indicadores de fala. Você nem precisa dar uma descrição tão completa como essa. Mas o “falou enfaticamente” poderia ser trocado por “esbravejou”. Você tirou o tão usado “falou” economizando uma palavra e ainda colocou uma carga emocional e uma visualização de cena usando apenas uma palavra.
Isso vai te ajudar muito a construir bons diálogos com mais emoção e ação. Fazendo seu personagem agir enquanto fala, assim como nós fazemos na vida real.
Por falar em vida real, sabe outra coisa comum na vida que não levamos para os livros?
Pausas
Quantas vezes em uma conversa você falou algo como “oi?”, “pode repetir?”, “desculpa, não entendi.”? Eu confesso que muitas vezes começo a viajar e me perco em conversas e acabo não ouvindo direito algo, ou apenas não entendo o que a outra pessoa falou.
Então, se isso acontece na vida real, por que não nos livros? Todos têm audição e atenção perfeita?
Nenhum diálogo é linear sempre. E mesmo que seja algo super importante, a desatenção é humana e pode passar características importantes sobre a pessoa. Como você pode ter notado, eu sou uma pessoa desatenta em conversas. Então, quando couber uma pausa desse tipo, use. Ela pode humanizar a conversa e trazer informações sobre a personagem ou mesmo o local no qual as personagens estão. Se for um lugar barulhento, a conversa não será linear, então esse é um bom recurso a se usar.
Lembrando que a pausa deve também auxiliar a história ir adiante, passando informações relevantes. Não apenas como meio de humanização do diálogo.
Evite conversa de curso de idiomas
Quando você estava aprendendo inglês, espanhol ou outra língua, lembra dos diálogos dos livros?
Eles seguiam aquela sequência de “Oi Maria. Tudo bem com você?”…”Oi Pedro. Tudo bem e com você?”…Toda pergunta era sempre respondida exatamente para fechar o ciclo, e nenhuma personagem parecia ter muitas emoções.
Mas na vida, você já teve alguma conversa assim? Eu nunca vi isso nem em entrevista de emprego.
No Brasil, nós somos pessoas expansivas. Gostamos de conversar e unimos assuntos uns nos outros. Se alguém te ver na rua de surpresa talvez diga algo como “Mariia. Quanto tempo! Como você tá?” e a resposta talvez seja “Meu deus, muito tempo mesmo. Nem lembro quando nos vimos da última vez”…
Assim, a Maria nem respondeu como está, mas vocês já vão falar sobre a última vez que se viram. Ou seja, a conversa fluiu e a história seguiu adiante sem vocês trocarem a informação inicial se estava tudo bem. Nós fazemos isso a todo momento. Então, evite a conversa de curso de inglês. Deixe o diálogo fluído como na vida real, usando isso para fazer a história seguir seu caminho sem interrupções desnecessárias de troca de informações banais.
Ressaltando apenas que se for uma conversa super formal, ou se no universo da sua história as pessoas tenham o costume de conversas lineares e fechadas, aí sim você precisa manter essa estrutura. Tudo depende também da sua construção de mundo e da situação do diálogo.
Para finalizar o diálogo tem uma última dica que tira todo escritor do sério.
Pontuação
Primeiro é importante ressaltar que travessão e hífen são sinais diferentes. Hífen é o tracinho pequeno que todos conhecemos. O travessão é aquele traço maior que não se acha no teclado de um computador convencional, então muitos acabam não usando. Mas nós escritores precisamos usar.
No Word do Windows o travessão é feito clicando a tecla “Alt Gr” e o sinal de menos do teclado numérico. No MAC se clica em Shift, Option e o sinal de menos do teclado numérico. Se você não utiliza o Word, é só buscar na internet o atalho da sua ferramenta. Alguns programas para escritores até facilitam isso já. Se você quiser conhecer mais programas para escrever seus livros, você pode ler esse post onde listo alguns dos mais usados.
Mas voltando a pontuação agora que você já sabe que precisa usar o travessão. Muita gente tem dúvida sobre usar pontuação, maiúsculas e minúsculas no diálogo. Apesar de existirem regras, muitas vezes os escritores não as usam corretamente. Então aqui algumas delas:
Maiúsculas e minúsculas
Qual é o correto?
— Vá lavar a louça! — gritou a mãe.
Ou
— Vá lavar a louça, não quero um prato sujo — explicou o pai.
Em ambos os casos o verbo dicendi; ou seja, o gritou e explicou; virá com a inicial minúscula, pois o diálogo e a narração são partes da mesma sentença. Isso serve mesmo com o ponto de exclamação ou interrogação, pois essas pontuações apenas dão a entonação do diálogo e não fecham a sentença em si.
Mas também temos o caso de:
— Vá lavar a louça! — A mãe gritou arrancando o controle do filho.
A inicial da frase após o travessão vem em maiúscula, pois não existe o verbo dicendi, e então não há continuidade na sentença.
Esses dois são os casos mais usuais, mas e quando se usa vírgula com o travessão.
— Vá lavar a louça — explicou a mãe —, logo receberemos visitas.
Nesse caso se usa vírgula, pois o diálogo é interrompido pela explicação com verbo dicendi. Caso retirássemos o “explicou a mãe” a frase ainda faria sentido e permaneceria correta.
Eaí, gostou das 4 dicas para escrever diálogos melhores? Ficou com alguma dúvida sobre eles, ou quer mais exemplos de pontuações? Me deixa um comentário aqui embaixo para eu continuar te ajudando.
E se você quiser dar o próximo passo na carreira literária, acesse o Curso de Escrita Literária. Me deixe fazer parte da sua jornada do escritor.
Uma ótima produção para ti e ótima construção de diálogos. Até o próximo post. Até mais!