Sempre que o assunto é criar uma história, existem diferentes ferramentas que podem ser usadas a fim de garantir que a escrita de histórias saia da sua mente e comece se transformar em algo concreto. Mas, para isso, é preciso entender as possibilidades.
Antes de mais nada, esses recursos narrativos estão diretamente ligados ao tempo, que é a maneira como você escolhe escrever a história.
Alguns autores podem contar toda uma história em apenas cinco linhas, enquanto outros levam mais de mil páginas para dizer o que aconteceu em um único dia.
Como a narrativa em si é o recorte da vida do personagem, sendo possível escolher o tempo e a maneira como isso vai acontecer, seja iniciando pelo ponto crítico, passado, futuro e mais.
Mas não é só isso, o tempo da narrativa pode ser histórico, psicológico, cronológico e de discurso.
O tempo histórico se refere às épocas, como a dos gregos, idade média ou mesmo futurística. Enquanto o tempo psicológico se refere a percepção de tempo, podendo ser curto ou longo de acordo com os acontecimentos.
Quando pensamos em tempo cronológico, a narrativa se refere a sequências de acontecimentos e como elas se desenrolam.
Já o que chamamos de tempo do discurso é como você manipula o tempo cronológico para apresentar a ordem como os fatos acontecem.
Sabendo disso, você já está pronto para entender os quatro recursos narrativos usados nas histórias, que podem deixar alguns escritores confusos no início.
Analepse
Geralmente, esse tipo de recurso é usado no início da narração para se referir a um fato passado, causando uma interrupção do tempo cronológico.
Por exemplo, quando você está lendo a história de um personagem “x” que está viajando para uma cidade e vem a quebra dessa ordem apresentando uma parte da história do passado dele, contando de uma queda na infância ou outra questão.
Prolepse
A prolepse é um contraponto do recurso anterior. Ela faz uma referência ao futuro da personagem. Portanto, é um recurso comum quando existe um objetivo ou foco a ser alcançado, como se fosse o destino daquele personagem.
Esse recurso também é conhecido como a antecipação, sendo destacado para um termo que se descola entre as frases.
Para ficar bem simples de entender, podemos citar algumas frases que aparecem em obras atemporais, como quando você diz que “muitos anos depois”, que é a prolapse ou mesmo ao dizer que “havia de recordar aquela tarde”.
Muitas vezes, esse tipo de recurso é usado para fazer com que a história cause uma sensação de suspense ou mesmo de mistério para o leitor, podendo o escritor contar ou não toda a situação a qual se se refere.
Tanto a analepse quanto a prolepse podem ser confundidas com outros recursos narrativos e por isso você precisa entender esses outros dois.
O que achou dos dois primeiros recursos narrativos para falar sobre passado e futuro? Deixe o seu comentário.
Flashforward
O terceiro recurso é o flashforward que é uma interrupção da sequência narrativa e cronológica que você está criando para falar sobre eventos que acontecem posteriormente.
Em termos simples, esse recurso faz uma quebra temporal daquele momento para apresentar algo do futuro.
Geralmente, esse recurso é apresentado usando várias prolepses ou quando um outro personagem, como um vidente, mostra parte do futuro do outro que o está consultando.
Um dos programas mais famosos da TV, que faz uso desse recurso, é a série Lost, focada no drama e no suspense utilizando uma mudança de plano temporal.
Um exemplo de flashforward que faz uso de constantes prolepses é apresentado no livro Édipo. Logo no início da história, já começamos a ler sabendo que o personagem vai matar o pai e ainda se casar com a mãe.
Flashback
O último recurso narrativo é o Flashback, que é um dos recursos mais conhecidos dos escritores e também um dos mais usados, mas que em excesso pode ser um problema, fazendo o texto ficar cansativo e chato.
Diferentemente de outros recursos, o flashback é quando você apresenta uma cena do passado de forma completa.
No caso do flashback, a narrativa sofre essa interrupção para apresentar ações ou mesmo situações de forma momentânea, ou seja, há um corte na história e, logo em seguida, a narrativa volta ao normal.
Esse recurso narrativo é usado, principalmente, quando aquele acontecimento faz uma real diferença para o que você vai ler em seguida, muito usado para falar sobre traumas e desafios.
Para isso, grande parte dos autores invocam o flashback através de uma memória, causando uma identificação. Por exemplo, se o autor cita uma música durante o flashback, é possível que o leitor acabe se lembrando da cena do livro quando ouvir a música posteriormente.
Grande parte dos flashbacks tem como objetivo aproximar o leitor do personagem, para entender as ações e motivações, evitando até mesmo julgamentos.
Como quando o personagem está para entrar em uma briga e o recurso mostra o quanto ele sofreu na infância. Isso faz com que você acabe justificando aquela ação ou criando um tipo de ponte para que a próxima ação do personagem faça algum sentido.
Agora que você já conhece cada um dos principais recursos narrativos, é possível que fique na dúvida de como usar cada um deles durante o seu processo criativo.
Portanto, vou exemplificar cada um deles considerando a maneira de como usá-los.
Exemplo Prolepse
Na prolepse o foco está na alteração da ordem das coisas, trazendo para o presente as situações que vão acontecer futuramente.
Dessa maneira, imagine que você está contando a história de um garoto que encontra um cãozinho na rua e decide ajuda-lo levando-o para casa.
Então, no momento seguinte, você corta a história para dizer que “a partir daquele dia, o cão apelidado de Aquiles será o maior amor da vida da personagem”.
Exemplo Analepse
Já a Analepse foca em um movimento que apresenta um relato anterior ao que está sendo contado. Para usar esse tipo de recurso, é preciso considerar o tempo no qual a história está sendo contada e a relevância daquela cena que será apresentada.
Então, suponha que você esteja criando uma obra sobre um viajante que está indo para um novo país. Durante essa viagem, ele encontra uma caixa repleta de itens de uma família que já morreu.
Neste cenário, a história é cortada para contar a história daquela família e, no final, retorna para a história do personagem viajante.
Exemplo Flashforward
Seguindo para o Flashforward, uma das grandes vantagens é que o leitor pode não notar esse recurso, sendo um pouco mais complexo que os demais, já que pode causar algum confusão no tempo do texto.
Entre os melhores exemplos que podem ser citados aqui estão a série Dark e o filme A Origem.
Em todos os casos, o flashforward é um flashback do futuro, intencional, como um sobreaviso que pode ensinar ou alertar alguma coisa importante para a história.
Portanto, imagine que você está escrevendo sobre uma batalha de um super-herói com outro. Então, a história é cortada para mostrar qual dos dois venceu a batalha, o que causa uma surpresa absurda, levando o leitor a se perguntar como aquilo pode acontecer. Assim, a história volta para o presente, narrando os acontecimentos.
Exemplo Flashback
Agora chegamos ao fashback, um dos recursos mais usados na literatura e no cinema.
Para criar essa cena, é preciso criar uma ponte entre o que está acontecendo e o que será contado, definindo uma relação entre elas que faça sentido para o leitor.
Suponha que você está contando a história de um personagem que tem muito medo do escuro, mas que não entende exatamente o porquê. Ao fazer uma corrida por um bosque, ele acaba fazendo uma parada para amarrar os tênis.
Neste exato momento, o personagem vê uma luz no meio do bosque e começa a se lembrar de quando era criança, caiu em um buraco e ficou dias presos ali, até que alguém o encontrasse e o tirasse do escuro.
Evocando essa memória, é possível apresentar dados, como o tempo e a umidade, sensações e sons que ele ouvia enquanto estava naquele espaço.
Essas características da personagem você já pode pensar enquanto desenvolve sua ficha sobre ela e aí quando surge a oportunidade na história, você já tem a história pregressa preparada. Se você quiser saber como criar personagens mais profundos, sugiro esse post aqui do blog.
Destacando então que todos os recursos narrativos servem para que você consiga contar a sua história de maneira completa, apresentando os fatos a partir da sua importância e também para que o leitor consiga compreender as coisas da forma como você deseja que isso aconteça.
Se você ficou com alguma dúvida sobre esses recursos ou quiser que eu aborde outros que ainda causam confusão na hora de escrever, me envie um comentário aqui embaixo. Uma ótima criação de histórias para ti e até o próximo post.
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