Está querendo começar a emitir uma opinião clara sobre fatos do cotidiano e provocar uma reflexão do leitor? Essas são as principais características da crônica, mas você deve querer um pouco mais que isso, certo? Então, o que é e como surgiu a crônica?
A crônica surgiu com os folhetins do século XIX na França e evoluiu de um texto informativo e jornalístico para um texto mais artístico. Ainda hoje as crônicas fazem parte dos jornais e tem como uma das principais características comentar ou relatar fatos atuais.
Inclusive, o nome do gênero, “crônica”, vem do grego “chronos” que significa ‘tempo’. Ou seja, esses textos devem sempre ser contemporâneos em seu conteúdo.
A mudança que ocorreu na evolução do gênero, e que marca a crônica hoje é a dose artística correspondente à personalidade e perspectiva do cronista, normalmente através de críticas, piadas e sátiras.
Assim, a crônica vai além da transmissão de informações, ela apresenta um ponto de vista, uma opinião e tem uma identidade bem definida, sempre sendo elaborada sobre temas atuais.
Mas se a crônica fala de eventos atuais trazendo informação e opinião, qual é a real função do gênero nos dias de hoje?
Então, com muito espaço na mídia, principalmente em jornais e blogs, a crônica tem a finalidade de provocar uma reflexão sobre determinado assunto.
Os cronistas costumam pegar eventos e temas em voga e trazem sua própria versão sobre eles, fazendo com que o leitor use esse texto mais leve e artístico para se questionar e refletir.
Com a evolução da crônica e os diferentes tipos de texto que compõe o gênero, acabaram se criando diversas vertentes dela.
Crônica descritiva
Nela se ressalta a descrição dos elementos, ou seja, é um texto que expõe os detalhes de objetos, lugares e personagens. Nesse subgênero é comum que sejam abordadas situações utilizando uma linguagem mais dinâmica e conotativa.
Crônica narrativa
Como o nome diz, esse tipo é marcado pela narração em primeira ou terceira pessoa do singular. Ele costuma conter humor, ação e crítica, sempre trazendo um ponto de vista forte, normalmente trazendo uma personagem na situação da história.
Crônica dissertativa.
A crônica dissertativa costuma trazer a opinião explícita do autor sobre determinado tema, assim, ela tende a ser escrita em primeira pessoa do singular ou terceira pessoa do plural.
Crônica humorística
Diferentes abordagens podem ser adotadas nesse tipo de crônica para tratar dos temas que impactam a sociedade de forma cômica. São muito utilizadas a ironia, o sarcasmo e, claro, o humor, para as situações. Assim, ela costuma ser uma das mais fáceis de serem identificadas quando se lê.
Crônica lírica
Neste subgênero, as emoções são a marca registrada, trazendo sempre um grande sentimentalismo ao texto. São muito usadas a linguagem poética e metafórica que trazem temas como nostalgia, saudade e paixão.
Crônica poética
Obviamente, ela utiliza versos poéticos em sua composição, também trazendo sentimentos e emoções. Assim, ela é facilmente confundida com o subgênero anterior, o lírico.
Crônica narrativo-descritiva
Como o nome diz, ela une os subgêneros narrativa e descritiva, mesclando suas características e trazendo acontecimentos em uma sequência lógica e cronológica.
Crônica jornalística
Ela tem um viés do texto jornalístico sobre veiculação de notícias e fatos. Assim, ela aborda acontecimentos atuais trazendo características narrativas e argumentativas relacionados ao fato em si. Ela é muito marcada por apresentar longos trechos de reflexão e costumam seguir uma linha editorial do veículo no qual é publicada.
Crônica histórica
O texto desse subgênero relembra episódios passados se baseando em fatos históricos sempre trazendo personagens, tempo e espaço bem definido em relação ao tema histórico que está sendo tratado.
Crônica-ensaio
Aqui, o texto costuma trazer críticas ao que acontece nas relações sociais e de poder na sociedade. Muitas vezes é marcada pelo sarcasmo falando sobre grupos sociais e instituições de poder como governos.
Crônica filosófica
Como você deve imaginar, aqui o texto traz uma forte reflexão sobre um tema específico tendo como grande objetivo a reflexão do autor e do leitor sobre algo.
Eaí, sabia que a crônica podia ser dividida em tantos subgêneros? Você pensa em escrever algum específico ou ainda vai analisar para ver por onde começar? Me conta aqui nos comentários. E aproveita para curtir o vídeo e se inscrever no canal para receber mais conteúdo sobre escrita toda semana!
Mas voltando à produção de crônicas, apesar de termos tantos subgêneros, a crônica mantém uma mesma estrutura com as mesmas características de produção.
Principais características
- Linguagem simples e informal;
- Textos curtos e de fácil compreensão;
- Uso de uma ordem cronológica;
- Reflexão ou conclusão sobre algum acontecimento do cotidiano;
- Humor crítico, irônico ou sarcástico;
- Análise crítica sobre diferentes temas;
- Poucos personagens ou nenhum;
E sobre sua estrutura, ela é composta basicamente sobre 3 aspectos:
Introdução: Que deve ser breve, expondo o fato ou acontecimento que será analisado.
Desenvolvimento: Que deve constar a análise do cronista, utilizando os elementos e características dos subgêneros que falei antes.
E o encerramento: que traz o ponto de vista ou reflexão do autor sobre o tema analisado.
Ou seja, para variar, temos a estrutura de 3 atos em mais um gênero literário. Agora, a crônica. Caso você não conheça a estrutura de 3 atos, ou queira saber mais sobre ela, tem esse vídeo aqui no canal que trata sobre o assunto. Você pode acessá-lo pelo card aqui em cima.
Importante você saber que apesar de existir essa estrutura que é normalmente utilizada, você não deve ficar preso a ela. A estrutura de 3 atos é uma opção, e todo escritor pode deixar sua escrita fluir como achar melhor.
Na criação não existe certo ou errado. Lembre-se sempre disso!
Ok, mas mesmo sabendo tudo isso, você talvez ainda tenha alguma dificuldade para escrever. Afinal, escrever uma crônica é bem diferente de escrever um conto ou um romance.
Mas há algumas dicas que você pode seguir para melhorar a sua produção como cronista.
Escolha temas contemporâneos.
Como falei, crônicas são relacionadas a fatos atuais ou questões do cotidiano. Então, antes de tudo, defina o seu tema e o fato ao qual ela está relacionada.
De preferência, escolha acontecimentos de conhecimento geral, afinal, quanto maior conexão o leitor tiver, melhor para a experiência de leitura e reflexão sobre o tema.
Essa dica sobre fatos atuais só não vale para Crônicas históricas. Afinal, nelas você escolherá um fato passado, mas que também seja de grande conhecimento popular. Isso sim não muda.
Com o tema escolhido, vamos para a segunda dica:
Pesquise muito sobre o fato
Essa pesquisa te dará um conhecimento sólido sobre o acontecido, e você poderá definir e embasar bem a sua opinião para conseguir levá-la ao público através de uma boa crônica.
E isso nos leva para a terceira dica:
Expresse e defenda o seu ponto de vista
Sempre se posicione. Se você quer apenas contar uma história, escreva um conto. Se você quer contar um fato, faça um texto jornalístico.
A ideia da crônica é que você dê seu ponto de vista sobre um fato, então não segure sua opinião pensando no julgamento de outras pessoas. Se seu texto não tiver um ponto de vista claro, simplesmente você não escreveu uma crônica.
Evite incluir personagens
As crônicas misturam o jornalístico e o literário, flaando de fatos, opiniões e ideias. Assim, dificilmente contam com personagens, assim como com cenários.
Pense bem em como quer apresentar a sua opinião e ponto de vista. O foco é sempre transmitir esse ponto de vista e incentivar uma reflexão sobre um tema ou fato.
Por falar em personagem, você viu o vídeo da semana passada sobre Criação de Personagem? Se você gostar de escrever personagens, eu disponibilizei um ebook sobre Criação de Personagem, com um modelo de ficha de personagem para você criar os seus de maneira mais completa. Se quiser assistir o vídeo, pode acessá-lo através do card aqui em cima. Já o link para o ebook vou deixar na descrição desse vídeo para facilitar.
Mas lembre-se: nas crônicas deve-se evitar os personagens e focar no seu ponto de vista. Por sinal, assim como você quase não incluirá personagens, também evite isso:
Evite fantasiar demais nas histórias
Crônicas não são contos. Você está escrevendo algo baseado em fatos reais, sobre algo que as pessoas vivenciam. Você pode brincar com a fantasia se estiver relacionado ao tema e evento a ser analisado, mas de preferência faça isso em último caso.
Outra dica é:
Manter a crônica curta
Crônicas são textos curtos por essência, que facilitam a leitura para que seja feira de maneira rápida e leve, mas que faça o leitor refletir sobre o tema.
Por ser de fácil leitura, o texto não é aprofundado, assim não é preciso escrever demais ou detalhar informações desnecessariamente.
E isso leva a próxima dica:
Seja claro e informal
Por ter a leitura rápida e ágil, evite usar palavras difíceis e bonitas para impressionar o leitor. Mesmo no subgênero lírico. Um texto cotidiano, deve sr feito com palavras cotidianas.
Para finalizar, assim como devemos fazer em qualquer texto, revise sua crônica. Use essas perguntas para ver se sua crônica está boa.
O meu texto está curto? A leitura do meu texto é leve? A linguagem é simples e universal? O meu texto contém elementos narrativos básicos? O meu texto inclui minha visão pessoal sobre o tema? O meu texto promove uma reflexão ou diverte os leitores?
Se a resposta for ‘SIM’ para todas as questões, com certeza você tem uma crônica em mãos.
Caso você não esteja alcançando algum desses objetivos, minha sugestão é que estude um pouco mais e leia outros cronistas.
Principais cronistas brasileiros
Nós temos grandes cronistas brasileiros que você pode ler para se inspirar. Entre os principais estão:
Machado de Assis, que falou muito sobre o cotidiano da cidade do Rio de Janeiro.
Clarice Lispector, que marcou o Modernismo e teves suas crônicas marcadas por descrições psicológicas e epifanias.
Cecília Meireles que falou muito sobre a morte, o amor, o eterno e o efêmero.
Nelson Rodrigues que trouxe a realidade crua falando muitas vezes sobre erotismo.
Carlos Drummond de Andrade, com suas crônicas libertinas e sarcásticas.
Vinicius de Moraes que trouxe leveza, humor e lirismo.
Lima Barreto que usou a crônica como crítica à República Velha e tratava muito sobre exclusão social.
E Rubem Braga que ficou marcado pela ironia, lirismo e humor.
Eaí, ta pronto para colocar seu ponto de vista nos seus próximos textos? Ficou com alguma dúvida sobre a crônica? Deixa seu comentário no post. Uma ótima produção pra ti e até o próximo post. Até mais!
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