ARQUÉTIPOS NA CRIAÇÃO DE PERSONAGENS

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ARQUÉTIPOS NA CRIAÇÃO DE PERSONAGENS

Arquétipos

Um dos principais elementos de qualquer história são suas personagens. É difícil pensarmos em um livro ou filme e não remetermos diretamente a uma personagem em questão.

Para trabalhar essas personagens e cria-las de maneira mais profunda e que gerem empatia há diversas informações que você pode incluir. Mas além da criação da personagem em questão, existe também o papel que essa personagem tem dentro de uma história.

Quando se pensa no papel é comum lembrar de protagonista, antagonista, coadjuvante, e por aí vai. Mas esses são os tipos de personagens que temos, e não os papeis que eles têm dentro da história.

Com papel, o que eu quero dizer são os Arquétipos.

Em um outro post aqui do blog eu falei sobre a Jornada do Herói e o livro de Cristopher Vogler, A Jornada do Escritor: estrutura mítica para escritores.

Esse livro não trata apenas sobre a estrutura da jornada do herói, mas fala também dos papeis das personagens.

Para contextualizar, o termo arquétipos não foi criação de Vogler, mas do psicólogo suíço Carl Jung. O termo designa padrões antigos de personalidade como um inconsciente coletivo que estabeleceu essas personalidades em personagens de diferentes histórias e em diferentes épocas da sociedade.

Segundo Vogler, os arquétipos auxiliam o escritor a determinar se uma determinada personagem está realizando alguma função na narrativa. Mas é importante ressaltar que apesar de uma personagem ter uma função na história e poder ser enquadrada em um arquétipo específico, nada impede que essa sua função mude.

Você já mudou seu ponto de vista sobre alguma coisa, não é? Você já agiu de uma maneira sobre algo e depois cresceu, amadureceu ou apenas mudou de opinião. Às vezes até age com um perfil em uma situação, e depois altera seu arquétipo para enfrentar uma situação diferente. Então, assim como na vida, as personagens não precisam ter a mesma função arquétipa em toda a trana.

Se nesse post estou te passando um ensinamento, posso estar sendo seu Mentor. Mas talvez outra pessoa me veja como Sombra. Apesar de eu esperar não ser sombra da história de ninguém.

Os arquétipos são como máscaras que a personagem veste em um determinado momento para evoluir uma história. E assim como uma máscara, ela pode ser trocada.

Eaí, ficou claro o surgimento dos arquétipos e para o que eles servem? Agora, vamos falar um pouco sobre cada um dos principais arquétipos de Vogler que são mais usados nas histórias.

Herói

Ele é o protagonista da história e quem a leva adiante. É uma personagem bem construída, cheia de emoções, sejam elas boas, ruins, confusas, contraditórias, firmes, como todos nós somos na vida real.

O Herói sofre uma série de provações no decorrer da história e, conforme Vogler, segue algumas funções dramáticas essenciais que são a Identificação do público, crescimento (ou amadurecimento), ação, sacrifício, confronto com a morte, entre outros.

O autor ainda ressalta que existem dois tipos de heróis. Lembrando que o arquétipo não é necessariamente um personagem fixo, mas uma máscara que vários podem usar.

Assim, podemos ter o Herói Voluntario e o Herói a contragosto.

Os voluntários são aqueles “ativos, entusiasmados, comprometidos com a aventura, desprovidos de dúvidas, automotivados e que sempre avançam com bravura”.

Já os ‘a contragosto’ são aqueles “cheios de dúvida e hesitações, passivos, carentes de motivação ou que precisam ser empurrados para a aventura por forças externas”.

Mentor

Esse arquétipo também pode ser chamado de ‘Velha ou velho sábio’, exatamente porque muitas vezes surgem como uma figura mais velha que traz conhecimento para o herói da história. Assim, podemos lembrar de Yoda, Obi-wan, Gandalf, Dumbledore, e uma centena de outros.

A principal função dramática desse arquétipo é ensinar, mas claro, nem sempre precisa ser um personagem mais velho. Basta ser alguém mais experiente que passe seus ensinamentos ao herói. Como Morpheus ensinou para Neo em Matrix, por exemplo.

A palavra Mentor vem da Odisseia de Homero no qual um personagem chamado Mentor guia o jovem herói Telêmaco em sua jornada. No decorrer da história se descobre que o Mentor era, na verdade, a própria deusa Athena. Ou seja, uma representação divina, mais velha e cheia de conhecimento.

Guardião do Limiar

Esse arquétipo representa todo obstáculo que o herói deve superar durante sua jornada. Essa personagem não precisa ser necessariamente o antagonista, mas alguém que represente problemas internos da personagem como seus dramas pessoais. A função dramática do Guardião do Limiar é testar o herói e, nesse teste, ajuda-lo a amadurecer e, muitas vezes, se autodescobrir e, claro, aprender novos poderes e conhecimentos que o auxiliarão no resto da trama.

Arauto

O Arauto normalmente surge lá no início da história e costuma anunciar o desafio do herói. Lembra do Incidente Incitante lá na Estrutura de 3 atos? Normalmente é o Arauto o responsável por desencadeá-lo. Mas é difícil que exista uma personagem na história que sirva apenas para puxar o Herói para a história, né? Assim,o Arauto costuma ser uma máscara que alguém veste por um tempo apenas. Antes citei Gandalf como um mentor. Mas ele também é o Arauto de Frodo em Senhor dos Anéis. Ele o apresenta à aventura e o tira do condado, mas também segue com ele e lhe entrega seus primeiros ensinamentos em como agir durante sua jornada.

Com essa explicação fica bem clara a função dramática desse arquétipo, né? Motivar a ação do Herói dentro da história.

E já que falei sobre trocar máscaras. O próximo arquétipo é bom de mudar também.

Camaleão

O camaleão é aquele personagem ambíguo e instável. Alguém que está em constante mudança aos olhos do herói. Não precisa ser necessariamente uma mudança física, mas psicológica ou de estado de espírito.

Ele pode ser um aliado que muda de lado por alguma razão. Ou até mesmo um personagem que você não sabe de que lado está até chegar o momento centro. Quem nunca ficou em dúvida sobre Snape durante Harry Potter, né?

E já que arquétipos são máscaras. Um camaleão pode ser qualquer um e qualquer um pode vestir a máscara do camaleão.

Para os que gostam de Plot Twists, o camaleão é uma carta na manga. Esse troca-troca de máscaras é muito comum, mas claro, deve ser usado com cuidado.

Caso você seja o tipo de escritor que gosta ou que quer Plot Twists na sua história, recomendo esse vídeo aqui do canal onde eu ensino os elementos que o Plot Twist precisa ter. Você pode acessá-lo no card aqui em cima.

Mas voltando aos arquétipos, temos agora a antítese do Herói.

Sombra

Como você deve imaginar, o Sombra é a força antagônica ao herói. Pensando assim pensamos no Sombra como o vilão da história. Mas o arquétipo do Sombra não é apenas ser o vilão. Ele vai além.

As dúvidas e questionamento do herói sobre si e sobre sua jornada são máscaras de sombra nele próprio. O Sombra não é apenas uma personagem em si, mas podem ser os sentimentos reprimidos, traumas e culpas do herói que são refletidos no personagem do vilão.

Assim, o Sombra sempre se opõe às características principais do Herói. Se o herói é calmo e é reconhecido pela sua honra, o sombra é impaciente, estressado e imoral.  
Assim, sua função dramática é desafiar o herói a vencer os seus medos refletidos. Ou seja, ser um oponente a ser batido.

Mas assim como temos o desafiante do Herói. Precisamos ter seus amigos.

Aliado

O Aliado é o fiel acompanhante do Herói. São figuras agradáveis que lutam ao lado do Herói auxiliando-o para se manter na jornada. Eles cumprem o papel de humanizar o herói às vezes às vezes contrariando suas decisões e também o fazendo trazer à tona alguns sentimentos profundos seus. Assim, é comum que o Aliado ajude a definir algumas dimensões à personalidade do Herói principalmente relacionadas à dimensão social e psicológica.

Assim como outros arquétipos, toda personagem pode ser um Aliado em determinado momento. Muitas vezes vemos Aliados Camaleões que se tornam Guardiões do Limiar. E outras vemos o fiel Aliado como alívio cômico, sendo também um Pícaro.

Pícaro

Qual personagem te vêm à mente quando você pensa em alívio cômico em uma história? Eu lembro bem de Ron Weasley em Harry Potter e o Sam, em Senhor dos Anéis. Ou seja, eles trocavam de máscara entre Pícaro e Aliado dependendo do momento.

Mas o Pícaro não tem só essa função de alívio cômico pela piada apenas. A piada deve ressaltar algum absurdo que o Herói está fazendo em sua jornada. A ideia é fazer com que a piada o ajude no seu amadurecimento rumo a uma pessoa e Herói melhor.

Com esses oito arquétipos, você já conseguiu ver que uma personagem não é sempre uma coisa ou outra. Ter um arquétipo é algo de momento, conforme a história necessita.

Use essas máscaras de maneira que te ajudem a levar a trama adiante sem confundir demais seu leitor. Não podemos fazer todas nossas personagens serem Camaleões. Cuide nessa troca de funções de personagens. Mas com certeza que fazendo bom uso, você terá uma história e personagens mais profundas e complexas.

Mas me conta, ficou com alguma dúvida nos Arquétipos? Quer saber um pouco mais sobre eles ou quais os outros tipos? Me deixa um comentário aqui embaixo.

E se quiser evoluir ainda mais como escritor, conheça o Curso de Escrita Literária da Tellers. Me deixe ser seu mentor e aliado na sua jornada.

Te vejo no próximo post ou lá no curso de escrita. Uma ótima produção para ti! Até mais!

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